O empresário baiano Thales de Azevedo Leite cresceu entre palestras e palestrantes. Quando criança, um de seus programas favoritos era assistir às conferências do pai, o médico Antonio Rabello Leite, do avô, o antropólogo Thales de Azevedo, e de outras grandes pensadores brasileiros, como o economista Celso Furtado, o geógrafo Milton Santos e o escritor Jorge Amado. No ensino secundário (hoje ensino médio), era ele quem se encarregava de convidar artistas, políticos e formadores de opinião para debates e seminários na escola onde estudava, a Sophia Costa Pinto, em Salvador.
Nada mais natural, portanto, que unisse a paixão ao espírito empreendedor e fundasse, em 1994, a Azevedo Talentos Associados (ATA Palestras), primeira agência brasileira de palestrantes, abrindo caminho para a formação de um robusto mercado que hoje movimenta mais de R$ 100 milhões por ano no país.
Às vésperas de completar um quarto de século, a ATA Palestras exibe no currículo a realização de mais de 1.200 conferênciaspelo Brasil afora, com alguns dos principais palestrantesdo país e do exterior, nas mais diversas áreas do conhecimento: política, economia, gestão, arte e cultura, meio ambiente e qualidade de vida, entre outras.
“Parto do princípio de que qualquer pessoa, seja uma celebridade ou um nome ainda pouco conhecido, tem uma boa história para contar, ehá sempre alguém interessado em ouvi-la. Meu objetivo é promover esses encontros, que podem mudar a vida das pessoas”, afirma Thales de Azevedo Leite.
Da maior poeta brasileira viva, a mineira Adélia Prado, ao Prêmio Nobel de Economia, o norte-americano Paul Krugman, centenas de contadores de boas histórias participaram dos 1.200 encontros promovidos pelo empresário: Fernando Henrique Cardoso, Arnaldo Jabor, Frei Betto, Míriam Leitão, Drauzio Varella, Mario Sergio Cortella, Nélida Piñon, William Waack, Roberto DaMatta, Ana Botafogo, Marcelo Rubens Paiva, Paulo Henrique Amorim, Marcelo Gleiser, Amyr Klink, Eduardo Giannetti, Luiz Gonzaga Belluzzo, Gustavo Franco, Jorio Dauster, Merval Pereira, Sallete Lemos e Luis Nassif,entre outras personalidades que ajudaram a iluminar ambientes institucionais e corporativos.
Mestre da arte do encontro, Thales começou a exercitar desde cedo esse seu ofício – muito antes que se tornasse ofício. Sua trajetória profissional teve início aos 16 anos, como office boy de uma corretora de valores, em Salvador.Em 1979, embarcou para a Alemanha a bordo de um cargueiro, pagando a passagem com trabalho a bordo: ajudou a pintar o navio, lavou o convés, foi ajudante de cozinha.
Na Alemanha, trabalhouoito meses na área de câmbio do Deutsche Bank, em Frankfurt e Hamburgo. Com o dinheiro economizado, comprou um carro e viajou com amigos por toda a Europa. Foram quatro meses de viagem, por 15 países, ocasião que aproveitou para aperfeiçoar o inglês, o francês e o alemão, alémde exercitar sua atividade favorita: conhecer gente.
Quando o dinheiro acabou, vendeu o carro e passou a viajar de trem. Quando o dinheiro acabou de novo, trabalhou na colheita de uvas em Châteauneuf-du-Pape, no Sul da França. Oito horas diárias de labutano campo, sob sol escaldante, com pausa para o almoço à sombra de um trator, durante três semanas. Trabalho duro, mas compensador. “Todas as noites, madame Jufron, proprietária da cave, nos presenteava com uma garrafa de vinho. E a safra que eu ajudei a colher, a de 1980, é considerada uma das melhores da história da região”, orgulha-se.
De volta à Bahia, em 1981, concluiu o ensino superior na Escola de Administração de Empresas da Bahia (Unifacs), participou do curso de trainee do Citibank (que muitos anos depois viria a ser um dos principais clientes da ATA) e deu aulas no Colégio Antônio Vieira. Decidiu então morar em Brasília, onde frequentou a UnB como aluno especial de Relações Internacionais e trabalhou no gabinete do então governador do Distrito Federal, José Aparecido.
Em 1988, mudou-se para Nova York, onde trabalhou no Banco Econômico, a convite do tio, José Roberto de Azevedo, presidente do banco. Na volta, assumiu a Superintendência da Associação Brasileira dos Sebraes Estaduais, ocasião em que relembrou os tempos de secundarista e promoveuvárias palestras e seminários. A ideia de criar a primeira agência brasileira de palestrantes começava a germinar.
Cidadão do mundo, Thales Azevedo Leite se define como “um sótero-brasiliense-alemão”. Sótero porque ama de paixão sua Salvador natal, onde há 10 anos voltou voltou a morar; brasiliense porque guarda no coração um lugar especial para a cidade onde nasceu a ATA e cresceram suas três filhas mais velhas; e alemão porque os meses vividos na Alemanha, no início da vida profissional, foram determinantes para sua formação. “Meu software é alemão, no sentido da rigidez nos negócios e no cumprimento dos horários”, brinca.
Há mais de duas décadas, Thales Azevedo Leite adicionou outro ingrediente a esse caldeirão cultural particular e abraçou o budismo. “Creio no bom senso, na justiça e na razão, em contraposição à ira, à avareza e à estupidez. A vida é relação de causa e efeito: o que dou para o universo, o universo devolve para mim.”